segunda-feira, 15 de outubro de 2018

No tempo dos LPs



Capa pronta e interior
Logotipo rejeitado (Alceu achou muito afeminado)
No departamento de arte da Ariola. Bruno, Alceu e eu.
Quando tudo era desenhado a mão.
Recortado e colado.
Só faltam as letrinhas.
Fotolitando.
Interior pronto.

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Fazendo uma capa no tempo dos LPs

Só para quem tem mais de 60 anos.
Carlos Horcades



Eram outros tempos. À medida que o tempo passa as recordações voltam à lembrança. Estou escrevendo para não esquecer. Tudo muda, tudo amadurece tudo envelhece. E nós também. O mundo corre cada vez mais rápido. Quem não acompanha fica para trás.
O design tem mudado com a mesma velocidade do mundo. Como disse o poeta, “ O tempo não para”. O design gráfico na indústria fonográfica mudou mais ainda, os discos tradicionais duraram 90 anos, os CDs duraram pouco mais de 20 anos e morreram de repente, e agora tudo mudou outra vez com a era download. Um dia a gente acorda e vê que o tempo passou na janela. As coisas mudaram ? Para melhor ou para pior ? Isso não vai alterar nada, já passou, já passou, já passou. Parece que foi há pouco tempo, eu estava despertando para o design. Mesmo antes de entrar para a ESDI comecei a fazer capinhas de discos sem projeção, nem sei mais onde estão, estranhos fósseis dos anos 1960.
O interesse pela MPB me aproximou dos músicos, gravações, cantorias, quando fiz as primeiras fotos em estúdios de gravação. Cheguei a  cantar nos coros e corais, já que era razoavelmente afinado e estava lá mesmo...De vez em quando ganhava até cachê de vocalista. Eram estúdios com apenas dois canais, um para a voz e outro para todos os instrumentos juntos. Se algum músico tocasse um pouco mais alto, tinha que voltar tudo, “ vamos gravar de novo “. Hoje temos 100 canais, até mais se necessário. A eletrônica engatinhava, falava-se de um tal de “computador eletrônico”, uma ficção ainda distante. O ar refrigerado não gelava, não existia telefone celular, as ruas eram cheias de fuscas, kombis, gordinis e DKWs. Ia-se à cidade de terno e as mulheres iam de vestido, calças compridas só na zona sul. Os homens usavam bigodes e bigodinhos, os cabelos eram curtos, o machismo imperava entre os homens e as mulheres fingiam que não viam.
Mas voltando às capas dos LPs. O objetivo final desse processo de capa, muito bem remunerado, que às vezes durava dois meses ou mais, era chegar à arte final.  Arte final – ou o santo graal, nome do resultado de muito trabalho manual e intelectual, stress, dúvidas e certezas, feito aos poucos, envolvendo várias pessoas e etapas. Como fotógrafo e capista eu atuava em todas as etapas do desenvolvimento do produto. Fotografava as assinaturas de contratos na gravadora, as gravações nos estúdios, fazia  a capa, a tipografia e tudo mais.
Para montar a capa, se a verba fosse curta, a composição era feita em linotipo. O melhor era a Latt Mayer na Rua do Lavradio, um casarão fundado pela família Mayer que depois de dissidências entre os donos se dividiu em dois com a criação da Quimigráfica Mayer em S. Cristóvão, que passou a ser concorrente da Latt Mayer e tinha outro alemão como dono, acho que Volker Brockhaus. Um gente fina. A Quimigrafica Mayer atuava principalmente em fotoletras para títulos, que eram cobradas por unidade, em fotocomposição para blocos de textos e em seleção de cores, um trabalho muito caro e que rendia uma fortuna, pois atendia principalmente as ricas agências de publicidade. A Quimigrafica tinha uma pequena filial na Rua do Riachuelo, onde os projetos eram deixados e trabalhavam Dona Margarida Latt Mayer, acho que viúva do velho Latt Mayer, e sua fiel escudeira, a bela morena Zelandia, sensação da rapaziada e que parava o tráfego quando atravessava a rua do Riachuelo, parecia um samba do Moreira da Silva, “quando ela entra lá naquela feira, leva uns esbarro e inda pede desculpas”.
Dona Margarida adorava gatos, tinha sempre fotos de bichanos espalhados pela loja. Impossível existir uma velhinha mais adorável. Com o tempo, a Latt Mayer acabou e a Quimigráfica tomou conta do mercado em seu grande prédio de S. Cristóvão tendo Renart, Rainer, estúdio Alfa e muitas outras como concorrentes. O trabalho era caro, mas era muito bem feito, rápido e limpo. Portadores vinham de moto buscar o pedido escrito e desenhado com explicações a qualquer hora do dia ou da noite, e no mesmo dia traziam o texto já composto em três provas de papel fotográfico. A fotocomposição e a fotoletra apesar da sua boa qualidade acabaram por causa do alto preço, tinham negativo, revelação e provas em papel em três cópias.  Com a chegada dos PCs e das impressoras caseiras infinitamente mais simples, rápidas e baratas, a Letraset morreu discreta e silenciosamente. Simplesmente encolheu e as instalações em Bonsucesso passaram a fabricar e distribuir a folhas pequenas usadas por crianças nos colégios. Uma multinacional poderosa acabou em um ano no mundo inteiro.
Caso a verba para o trabalho fosse curta naqueles tempos da pobreza, eu fazia a composição num lugar perto da Central do Brasil onde havia linotipos baratinhos, instalados num sobrado quente e abafado. Três enormes linotipos alinhados pilotados por portugueses obesos e fedidos, com suas camisetas sem mangas e calças cinza listadas (as mesmas dos motoristas dos táxis banheira pretos dos anos 1940) e que não paravam de falar palavrões, piadas, arrotando e rindo da vida. Nuvens de vapor de chumbo enchiam a sala criando um ambiente cavernoso de fog londrino, malcheiroso e suado. Ninguém sabia dos malefícios do chumbo naqueles dias, e eu me pergunto quanto tempo os portugueses conseguiram sobreviver imersos naquele vapor de chumbo o dia inteiro, anos e anos a fio. Enquanto o texto era composto e impresso pelos fedidos, eu atravessava a rua e ficava vendo a gritaria numa igreja pentecostal em frente, o povo berrando “sai do meu corpo, Satanás !”  E gritavam a plenos pulmões para expulsar o cramunhão daqueles corpos pecadores. Em menos de uma hora eu saía feliz com três provas do texto impressas.  Mas só para o texto. As letrinhas grandes eram feitas com Letraset, aquelas folhas de acetato com as letras aplicáveis por contato, produto inglês usado por todos os designers do mundo.
Depois de muito desenhar, era feito um lay out, sempre a mão, preto e branco com um overlay em papel vegetal colorido por cima também a mão, que era finalmente levado para o designer da gravadora, que comandava o estúdio e acompanhava a produção da capa. Essa função era chamada de “ coordenação editorial ”. Os designers Aldo Luis, J. C. Mello, Tadeu Valério, Gê Alves Pinto e outros eram os titulares das gravadoras. Ariola, Som Livre, Warner, Polygram, Odeon, etc. tinham seus diretores de arte trabalhando fixo e confeccionando outras peças gráficas, posters, filipetas, catálogos, camisetas, brindes, etc.  Num tempo em que os discos vendiam até mais de um milhão de cópias, rolava muito mais dinheiro na indústria fonográfica do que hoje, tristes dias em que os downloads mataram os CDs e deixaram os músicos, intérpretes e compositores à mingua. Brindes eram distribuídos, havia boca livre de comes e bebes no lançamento, camisetas, bolsas brindes e muito mais.
Depois de aprovado o layout, vários dias eram consumidos passando pelas estâncias da gravadora, e se estivesse tudo perfeito, a capa ia finalmente para produção. Era imperativo fazer provas de prelo, caríssimas e demoradas, para ajustes de cor que iam para as empresas de seleção de cores e voltavam corrigidas.  Só então a capa era produzida.
Dependendo da verba do artista, produzíamos encartes, dobras, janelas, hot stamping, relevos secos e o que mais chamasse a atenção. O tempo entre o envio da arte final aprovada e a chegada das primeiras capas impressas era uma aflitiva interrogação:  será que passou algum erro ? Suspense. Às vezes passava um errinho, eram tantas as partes do disco, desde a bolacha central até os encartes, que tragédias já aconteceram com outros felizmente, discos foram recolhidos, milhares de capas jogadas fora, grandes prejuízos.
Mas finalmente chegava o dia em que você via a sua capa enorme, 31x31cm, (não essa coisinha pequena de plástico, o CD, duro e desajeitado), nas vitrines das lojas de discos, disputando espaço com outros discos e posters. Alguns discos davam muito trabalho e demoravam tanto que pareciam etapas da vida de um designer. Hoje, em um dia se faz uma capa e fim. Algumas capas eram o sonho de todos nós, O Luis Garrido era exclusivo do Roberto Carlos, que vendia milhões, todo ano a capa do Roberto garantia o natal do Garrido. Ele reclamava que tinha que se reinventar todo ano, já que o rei queria sempre fotografar com as mesmas roupas, cores e posições. Mas o dinheiro sempre compensava o esforço. Foi um tempo que já passou e não volta mais, hoje CDs não vendem nada, as músicas são pirateadas, uma capa de CD paga tão pouco que não compensa o trabalho, quantas saudades dos tempos de fartura.
 

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Ilustrações tipográficas e Civilité

Ilustrações tipográficas. Lou Myers, Milton Glaser e Paul Klee.

Estilo Civilité, uma tentativa de misturar o gótico com o manuscrito. O tipógrafo Robert Granjon, apesar de entusiasta do estilo, não obteve sucesso na difusão do mesmo.



quinta-feira, 27 de julho de 2017

Tipográficas

 Annus Domini 1958

"Fala Gutemberg" de Marcio Goldzweig, 2017

Fonte Noveau/Futurista usada em anúncio do Raio-x 

 Tipos engraçadinhos em anúncio Vitoriano.
RESTAURANTe RIO MINHO, Rio de Janeiro, Centro.

Sociedade Espírita São Sebastião, Rio de Janeiro, Jardim Botânico.



Liceu Literário Português, Rio de Janeiro, Centro.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017